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Os pais das crianças

Ou há a versão bebé, em que primeiro são as cólicas, depois os dentes e depois os pesadelos, ou seja, os pobres pais já não dormem desde que o miúdo nasceu, e o pior é que os vizinhos também não, mas pronto, eles escolheram ser pais e a nós ninguém nos perguntou. E ainda se podia dizer ‘deixa-os lá coitados, que o miúdo cresce’, mas quando o miúdo cresce os decibéis regra geral crescem com ele, demonstrando a admirável fidelidade do ruído. Os putos não têm horários: pedalam no triciclo pelo corredor até à meia-noite, gritam um com o outro até caírem de cansaço e discutem com os pais, que discutem de volta. E podia-se dizer outra vez, deixa-os lá, coitados, que o miúdo cresce ainda mais’, mas quando o puto entra finalmente na abençoada idade das consolas, desatamos a ouvir uns apitos, umas explosões, uns guinchos (enfim, sempre é melhor que a Xana Toc-Toc), e isto antes dele entrar na idade dos Sepultura, ou qualquer outra cova para onde se arrastam (a eles e a todo o prédio) quando fizerem 15 anos. É música para acordar os mortos, quanto mais os pobres dos vivos…

Que há a fazer: Mudar de prédio ou habituar-se a dormir de tampões. Pode pedir aos pais para porem a trela e o açaimo às crianças, mas estará a gastar o seu latim.

A velhota do cão (que também é surda)

É a vizinha clássica, que toda a gente tem ou já teve. Parece uma pessoa sossegada e temente a Deus mas faz mais barulho que a camioneta do lixo: ouve a telenovela em mais decibéis que a discoteca da moda, deixa a ventoinha ligada a noite toda, arrasta móveis até às 3 da manhã (mistério nunca resolvido: têm assim tantos móveis e tanta angústia decorativa que dê para andar a arrastá-los todas as noites?) e quando acorda com insónias (lá para as 4) nada melhor do que ligar a máquina de lavar roupa, porque se aproveita o tempo e a tarifa bihorária. O cão é igualmente velho, coxito e asmático: chama-se Piruças (ou Boneca ou Lady), anda a arfar pelo corredor, com um dente torto e saliva a pingar entre os caninos, desata a ladrar enfurecido se alguém no rés-do-chão deixa cair uma colher de chá, e uiva a noite toda quando a velha não está.

Que há a fazer: Pode deitar veneno no prato do Piruças mas ela arranja outro ainda mais uivante. Pode ir lá acima simpaticamente levar um ramo de rosas e pedir para ela fazer tudo mais baixinho. Ela vai desfazer-se em desculpas e prometer que desliga a ventoinha às 11 da noite. Cumpre nos primeiros cinco dias e depois nunca mais.

Os amantes apaixonados

São outro clássico, principalmente se acompanhados de cama rangente (não se sabe porquê mas têm sempre uma cama rangente, deve ser porque a própria cama também já não aguenta) e se não achamos muita graça nem sempre é a teoria freudiana que diz que é dor de cotovelo, pode mesmo ser porque não nos deixam pegar no sono e às 3 da manhã estão mais preocupados em experimentar a posição 24 do kamasutra do que em dormir.

Que há a fazer. Tampões nos ouvidos. Aguentar. Geralmente, não dura muito. Ou se cansam um do outro ou, pura e simplesmente, se cansam. Ninguém aguenta muitas noites sem dormir.

Os Musicais

Mais um clássico, desta vez protagonizado pelo elemento mais jovem da família. Não se sabe porquê, o mau gosto musical é sempre associado a decibéis em alta, como se quisessem converter-nos à força. Não querem. Gostam é de ouvir música até rebentar os tímpanos, e acham que têm a liberdade de fazê-lo porque estão em sua casa. Não percebem que os outros têm a liberdade de não o fazer, e também estão em casa deles, e ninguém lhes ensinou que a liberdade acaba onde começa a dos outros, que é uma filosofia demasiado complicada para os neurónios deles.

O que há a fazer: Ir lá bater à porta (cuidado para ser fora do horário da ‘discoteca’, para não dar uma de desmancha prazeres) e explicar, de maneira simpática, que gostava muito que eles baixassem o som lá pelas 10 da noite. Se eles não o fizerem, ponha um CD da Callas no volume máximo a noite toda e vá passar a noite (ou as férias) para casa da sua mãezinha.

A família búlgara

Estão sempre todos a discutir com todos, as portas batem, os miúdos gritam, mas depois se nos encontram cá fora ajudam-nos a carregar as compras ou a pôr o lixo no caixote. Fazem barulho mas nunca a horas desapropriadas, a não ser quando dão uma festa búlgara, que também não acontece todos os sábados. Às vezes temos vontade de lá ir bater à porta a pedir para participar, mas temos medo de acordar amanhã em Sófia sem um rim.

Que há a fazer: Nada, são vizinhos que não chateiam ninguém e até animam um prédio e pode-se sempre dizer às nossas crianças que se não comerem a sopa vamos dá-los para adoção à família búlgara, o que lhes vai dar um belo trauma para a vida, coisa que é sempre útil a uma pessoa e e stá desgraçadamente a desaparecer.

A Pedinte

‘Bom dia vizinha, desculpe incomodar, a vizinha não tem um ovo que me empreste?’, ‘Boa tarde vizinha, a vizinha desculpe incomodar, não tem um limãozinho? É que estou a fazer caipirinha e esqueci-me do limão…’ E é assim todos os dias. A vizinha não tem um litro de leite, uma laranja, um copo de água… Não custa nada, mas a certa altura começa a cansar.

Que há a fazer: A vizinha não tem? Não, a vizinha não tem. Pronto.

O Chato

Toda a gente sabe quem é. Ele aparece em todas as reuniões de condóminos para protestar que a porta dele tem um arranhão (invisível) que é preciso o condomínio pagar. Ameaça que ele próprio não pagará condomínio até lhe tratarem disso. Ele protesta de tudo: que o vizinho do 1º fuma, o do segundo lhe faz má cara, o do 3º cheira mal dos pés e o do 4º se levanta às 6. Ele insiste que se tem de escrever uma carta à câmara a propósito de não sei quê (nunca é ele que escreve), que é preciso comprar outro extintor porque este está fora de prazo, e que a ata tem de ser escrita com caneta azul porque a do ano passado era preta e fica a destoar. Não deixa pintar a escada porque primeiro exige que o resto do condomínio pague mil euros pelas infiltrações na casa de banho. Nunca está de acordo com nada, nunca deixa que se decida nada e as coisas nunca vão para a frente porque ele não deixa. Aliás, o país conta com várias pessoas assim, o que explica muita coisa.

Que há a fazer: Fazer o que se puder fazer apesar do que ele diz. E concordar com tudo o que ele diz. Cala-se mais depressa.

A família em crise

São um drama. O pai grita, a mãe discute, a criança chora, o cão uiva. Ela sai de casa jurando não voltar mas volta dois dias depois. Ele jura nunca mais se passar, mas passa-se dois dias depois. Ela aparece com um olho negro ou com os olhos inchados de chorar. E isto dias a fio.

Que há a fazer: Não ignorar, principalmente se há crianças incluídas. Isto não é um caso de vizinhos barulhentos ou daquele que gosta de ouvir os Sepultura, é mesmo um caso de violência doméstica. Se não sabe o que fazer, discuta a questão na próxima reunião de condóminos (estes geralmente são dos que nunca lá põem os pés), ou aconselhe-se com a Associação de Mulheres contra a Violência ou a Apav.

O Fantasma

Nunca ninguém o vê, raramente alguém o ouve, sai cedo e chega tarde, tem uma namorada no Rio de Janeiro e às vezes está fora dias a fio. Não aparece nas reuniões de condóminos porque não se quer chatear com essas coisas, geralmente não paga ou paga atrasado ou só paga três anos depois, ninguém o consegue encontrar na escada, enfim, na prática ninguém sabe se ele ainda está vivo…

Que há a fazer: Hmmm…. Se ele não chateia e você não é administradora do condomínio, nada.

Os Sossegados

São o vizinho que toda a gente queria ser (e que toda a gente acha que é, mesmo os chatos, que acham sinceramente que no fundo no fundo são umas pessoas encantadoras e quando não são a culpa é dos outros, aliás são o tipo de pessoa para quem a culpa de tudo é dos outros). São simpáticos, riem-se para nós na escada, e tratam-nos pelo nome antecedido de ‘Menina’ mesmo que se tenha 104 anos. Vão a todas as reuniões, pagam a horas, deitam-se cedo e são um exemplo de democracia e civilização. Tristemente, por algum equilíbrio cósmico, é a eles que costuma calhar o Chato, o Musical, a A Família em Crise ou os Pais de Família como vizinhos de cima ou do lado.

Que há a fazer: Eles, nada. Os outros é que podiam aprender com eles, mas estranhamente a sossegadice não é coisa que se pegue muito…

O Giro do Andar da Frente

Primeira coisa a dizer: é um mito. Quer dizer, sendo que ainda há giros e que eles têm de morar em algum lado, não deve ser totalmente mito, mas descontando os giros que moram em frente do Chato, do Barulhento, do Musical e da Família Búlgara em vez de morarem em frente a nós, pronto, estatisticamente já ganhou o estatuto de mito. Se tiver a sorte de ficar fora da estatística e perto do mito, aproveite.

Que há a fazer: Aproveitar, mas não abusar. Bater a pestana sempre que o encontrar é admissível. Passar a vida a ir lá pedir ovos, salsa e, sei lá, graxa azul-marinho para os sapatos, não. Pode dar-se o caso de o rapaz já ter namorada. Ou namorado.

O Coscuvilheiro

“Olá, menina Joana. Bons olhos a vejam. Então a sua mãezinha, já recuperou do joelho? O seu namorado está bonzinho? Não o tenho visto ultimamente… Agora chega mais tarde? Anda a trabalhar muito, ou é normal? A menina não lhe pergunta onde ele anda? Olhe que os homens agora são uns demónios”… E assim por diante.

Que há fazer: acenar, dizer a tudo que sim, parecer sempre com imensa pressa e não cair na asneira de lá ficar a dar conversa, porque quanto mais souberem, mais querem saber.

O Antipático

A gente encontra-o na escada de manhã, e ele nem olha para nós. À noite, nem nos vê. Quando olha para nós é como se fossemos uma imagem holográfica, os olhos dele atravessam pele e ossos e chegam diretamente à parede que está por trás de nós. Escusado será dizer que nunca ninguém lhes ouviu um ‘bom dia’ ou uma ‘boa tarde’, porque andam sempre demasiado ocupados com a sua muito ocupada vida, e muito preocupados com coisas que ninguém sabe o que são.

Que há a fazer: Se for do tipo que gosta de um desafio, diga-lhes ‘bom dia’ e continue a repetir bom dia bom dia bom dia bom dia até ele responder. Se não gosta de um desafio e tem medo de levar com uma bofetada, olhe, sorria-lhe na mesma. O mundo gira bem ou mal sem edição original, e pelo menos temos o consolo diário de saber que não somos como eles.

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