Provar que são inteligentes, fortes, desinibidas, competentes. Mas por muito que tudo isso tenha a sua razão de ser, na época que atravessamos, com tantas conquistas feitas, penso que é tempo de reclamarmos a nossa feminilidade e pôr de parte alguns extremismos de carteirinha. Em verdade vos digo que nenhuma mulher que se maquilhe e use push-ups pode arvorar máximas das senhoras que queimavam soutiens sem cometer perjúrio. E convenhamos, há muita sabedoria nos ensinamentos das nossas bisavós: a modéstia, o recato, a coquetterie, saber ouvir (e dizer o que agradava ao ouvido) o uso sagaz da beleza (se bem que está provado que a beleza nem sempre é um bónus, principalmente no que aos relacionamentos diz respeito) e da expressividade, a graciosidade e as graças do espírito, eram formas inteligentes de usar a natureza a nosso favor, mesmo que isso significasse fingir-se menos inteligente do que se era na realidade. E nota bene que esses “truques” não estavam reservados a actrizes e cortesãs: meninas e senhoras de comportamento irrepreensível eram hábeis na arte de os manusear para levar o seu barco a bom porto. A promessa (ou ilusão) de um possível flirt, desde que não passe disso mesmo, é bem aceite em toda a parte. Porque a inteligência, como a beleza, intimida. Por vezes, é mais astuto não demonstrar tudo o que se sabe. Diziam os antigos que Deus nos deu dois ouvidos e dois olhos, mas só uma boca – para observar e ouvir duas vezes, mas falar só uma. E no caso das mulheres (que os homens tanto adoram tachar de tagarelas) isso é duplamente verdade. Sempre ouvi dizer que é preferível passar por circunspecta do que por tola. A mulher misteriosa e feminina tem sempre poder, porque está mais próxima da sua essência. A serenidade pode passar por inocência, sedução, pudor, altivez. Tem todas as promessas. Gera curiosidade. E salva-nos de falar demais. Se a graça feminina desarma, o silêncio permite filtrar a informação útil, escutar e estudar o adversário, descobrir muito revelando pouco e ainda parecer interessada no interlocutor. As nossas avós sabiam que bem aplicado, parecer bonita e não falar muito não tinha nada a ver com um papel decorativo (then again, convém que uma mulher esteja decentemente vestida quando usar essa estratégia, senão não tenho argumentos para a defender). Por isso, meninas do século XXI, reflictam: nos negócios, na carreira, no amor e no resto, há muito poder escondido nisso dosit there and look pretty. Da próxima vez que tentarem inventar algo de inteligente ou sedutor para dizer, pensem de novo. O silêncio pode ser o toque final.
Crónica: O poder de “sit there and look pretty”
Desde que comecei a ter tamanho e miolo para ler as revistas femininas que apareciam lá por casa (com tudo o que elas têm de óptimo e de mau) que se repetia o mesmo choradinho: as mulheres (no trabalho, no amor, nos filmes de acção) querem sempre provar que são capazes de fazer mais do que ser donzelas em apuros ou, como as americanas gostam muito de se queixar, mostrar que são capazes de ir além do tradicional papel sit there and look pretty.
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