Quer editar um livro? Lançar um álbum de música? Fazer um doutoramento noutro país? Comprar uma cadeira de rodas? Tem uma ideia para um pequeno negócio ou um site? Seja qual for o projeto que lhe alimenta os sonhos por estes dias, há uma forma de conseguir juntar o dinheiro de que precisa através de uma plataforma de colaboração coletiva, ou crowdfunding.
Esqueça os ditos pessimistas de que ninguém dá nada a ninguém. A realidade mostra que a generosidade continua em alta. Basta conseguir convencer o mundo de que a sua ideia merece apoio para angariar vários milhares de euros, de amigos e desconhecidos, em poucas semanas. Foi o que fizeram, por exemplo, as 35 ginastas do Lisboa Ginásio Clube, que precisavam de 2220 euros para comprar uma trave para praticarem; ou o autor de banda desenhada Filipe Melo, que, juntamente com dois amigos ilustradores, conseguiu 6645 euros para fazerem o terceiro volume da banda desenhada ‘As Fantásticas Aventuras de Dog Mendonça e Pizza Boy’.
O conceito de crowdfunding já tem mais de 15 anos, mas chegou a Portugal há pouco mais de dois. Foi em 2011, graças a Pedro Domingos, Paulo Silva Pereira, Pedro Oliveira e Yoann Nesma, que durante um curso de MBA perceberam que partilhavam a mesma paixão pela ideia da colaboração coletiva. Criaram então a primeira plataforma de crowdfunding em Portugal, a PPL – Crowdfunding (ppl.com.pt), que em dois anos e meio já financiou 92 iniciativas e angariou mais de 263 mil euros no total. “O nosso objetivo é democratizar o apoio a projetos, porque acreditamos no empreendedorismo e na criatividade em Portugal, mas faltam incentivos, sobretudo para pequenos e médios projetos conseguirem ultrapassar as atuais barreiras rígidas ao financiamento e à iniciativa em geral”, lê-se no site.
O potencial do financiamento coletivo é tão grande que mesmo instituições de maior dimensão começam a recorrer a ele. Bandas independentes, como os Primitive Reason e Frankie Chavez, por exemplo, financiaram assim o lançamento de álbuns de música e, em setembro passado, o socialista António Costa tornou-se pioneiro ao recorrer ao crowdfunding para financiar um vídeo de apelo ao voto jovem no âmbito da sua candidatura à Câmara Municipal de Lisboa. Foi a primeira campanha de cariz político em Portugal e na Europa a fazê-lo. O melhor é que qualquer um pode fazer o mesmo.
Como funciona
1- O primeiro passo é escrever um texto convincente, explicando o que pretende fazer e porque precisa de ajuda. Idealmente, deve também fazer um vídeo.
2- Tem de definir o montante mínimo de dinheiro a angariar e o prazo para o atingir. (30 ou 90 dias). Não convém pedir acima do que precisa, já que vigora um sistema de ‘tudo ou nada’: se não atingir o valor que definiu, não recebe nada. Também não convém pedir menos do que precisa para levar o projeto avante, já que a plataforma depois acompanha a realização do projeto e é suposto informar os apoiantes do andamento da iniciativa.
3- Deve criar recompensas para os apoiantes. Se quer editar um livro, fazer um agradecimento no livro a quem contribuir com €5 e oferecer um exemplar autografado a quem der €10. Se pediu dinheiro para fazer um curso de massagens, pode oferecer uma massagem…
4 – Divulgue a iniciativa. A plataforma promove os projetos no site e na página de Facebook mas a quanto mais pessoas divulgar mais hipóteses tem de ter sucesso, já que estatisticamente 80% dos apoios vêm da rede de conhecidos dos candidatos.
5 – Se conseguir angariar o dinheiro no prazo que definiu, recebe o montante e o site cobra 5%. Se não conseguir, não recebe nada, o dinheiro é devolvido a todos os que contribuíram e a empresa não cobra nada.
O prazer de apoiar desconhecidos
O que leva um desconhecido a apoiar um projeto de alguém que não conhece? No caso de Paulo Santos, 35 anos, projetista, é a identificação com a ideia. “Descobri o crowdfunding em 2012, nunca pedi dinheiro para nada mas de vez enquanto apoio projetos que me interessam. O último foi a BD ‘The Pizza Boy & Dog Mendonça’, mas também já dei dinheiro no âmbito do Kiva para pequenos negócios de mulheres em países da Ásia.”
Ver o impacto real da nossa ajuda numa coisa concreta com que nos identificamos é outro incentivo referido por Pedro Domingos, criador da PPL Crowdfunding, assim como as recompensas que muitas vezes funcionam como compras antecipadas de um produto ou serviço. “Por exemplo, um dos candidatos, o Filipe Melo, conseguiu reunir 203 pessoas que efetuaram uma pré-compra do livro de Banda Desenhada que era o seu projeto. Ficaram todos a ganhar."