São 5h30 na ilha do Rei Jorge, na Antártida, 8h30 em Portugal continental. A diferença horária são escassas 3 horas, mas a distância que separa os dois pontos no globo são mais de 12 mil quilómetros. Se fosse via rádio, a chamada que Patrícia Azinhaga está a fazer poderia começar com um “Alô, alô, aqui PEPA”, o nome simplificado do projeto de cartografia geológica que Patrícia Azinhaga e Pedro Ferreira, do Laboratório Nacional de Energia e Geologia, estão a desenvolver nestas paragens. Por aqui, quando os investigadores saem para o terreno têm de levar um rádio para poderem comunicar com a base em caso de necessidade. O estado do tempo pode mudar de um momento para a outro e a visibilidade pode ficar extremamente reduzida com a neblina.
A ideia da chamada vídeo é “transportar os alunos para este ambiente extremo”, falar sobre a investigação científica na Antártida, o dia-a-dia nas bases científicas e sobre o que estão a fazer os geólogos portugueses na ilha. Do lado de lá, estão “28 alunos atentos e cheios de curiosidade”, nas palavras da professora. A sala de trabalho da base chilena ‘Professor Julio Escudero’ está vazia. Patrícia Azinhaga abre a janela e pega no portátil para mostrar a vista. O sol já nasceu e lá fora está tudo coberto de neve. “O dia começou de forma muito bonita”, diz Patrícia.
A Península Antártica é um dos locais do mundo onde a temperatura mais subiu em 50 anos. Por isso, muitos dos projetos de investigação em curso estão relacionados com as alterações climáticas. As próprias cartografia e amostragem de rochas que a equipa portuguesa está a fazer pretendem dar uma ajuda no estudo sobre os efeitos do aumento da temperatura na fusão do Permafrost, o solo permanentemente gelado.
Nesta base chilena coabitam durante o verão austral dezenas de cientistas de diferentes países. Portugal, não tendo base nem navio na Antártida, conta com o apoio logístico de outros países. Em troca, o Programa Polar Português cede lugares num avião que freta anualmente e que faz a viagem entre Punta Arenas, no Chile, e a ilha do Rei Jorge.
Esta foi a quarta Campanha Antártica Portuguesa e a primeira acompanhada por um canal de televisão nacional, a SIC. Desde a primeira Campanha Antártica Portuguesa, na época 2011-2012, 56 investigadores de instituições nacionais estiveram na Antártida a desenvolver projetos de investigação em áreas tão diferentes como a geologia, a biologia, a antropologia ou a arquitetura sustentável.
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