A Educação de Eleanor, de Gail Honeyman e publicado pela Porto Editora, superou as expetativas que tinha. A história é construída com tacto, de forma a nos envolver nela aos poucos e poucos, até ser impossível colocá-la de parte. Logo ao início, é possível perceber que Eleanor é uma mulher diferente. O seu comportamento causa estranheza e os seus pensamentos dão a certeza de que esta é uma figura com uma natureza invulgar. As fracas capacidades sociais são indícios para uma qualquer condição ou trauma, sendo que a forma como encara a própria solidão e a forma rotineira com que leva a vida claramente indicam que algo não está bem.
Ao início não tinha empatia pela protagonista, confesso. Sentia curiosidade em descobri-la, mas tinha dificuldade em colocar-me na sua pele e em entender as suas atitudes e pensamentos. Mas a mudança aconteceu! Eleanor acabou por se revelar uma personagem que dificilmente será esquecida, que tanto faz sorrir como emocionar. A forma sincera com que encara tudo é única e os mecanismos que encontra para fazer frente aos obstáculos que encontra impressionam.
É curioso pensar em como a mudança pode acontecer com tão pouco: um acontecimento aleatório, um estranho que se torna amigo. A forma como a autora operou as alterações nesta protagonista fazem acreditar que Eleanor é real. As mudanças acontecem de forma lenta, requerem “gatilhos” que despoletam pequenas alterações, sendo que estas levam a um maior autoconhecimento e à noção de que é preciso ultrapassar certas barreiras. Adorei acompanhar o caminho que Eleanor percorreu, e confesso que gostaria de continuar. Afinal, percebe-se o que poderá acontecer, mas não há a certeza.
O desenrolar da narrativa está bem conseguido e deixa perceber que este livro foi muito bem pensado. Existe uma história de fundo muito forte, que, apesar de não ser logo apresentada, está latente a todo o momento. Pequenas pistas que são dadas ao longo da leitura permitem-nos construir o passado de Eleanor, mas as certezas só surgem no fim, despoletando emoções fortes. A história, tal como as relações e a transformação da própria Eleanor, é bastante orgânica, cativa e faz acreditar que poderia estar a acontecer agora, no mundo real.
De forma sensível, real, dura e até com sentido de humor, somos levados a conhecer o lado dos que ficam após um acontecimento terrível. É uma visão diferente, que nos faz pensar sobre as marcas que as más acções dos outros nos podem deixar. Esta é uma leitura que toca e que dificilmente será esquecida.
Sinopse:
Eleanor Oliphant tem uma vida perfeitamente normal – ou assim quer acreditar. É uma mulher algo excêntrica e pouco dotada na arte da interação social, cuja vida solitária gira à volta de trabalho, vodca, refeições pré-cozinhadas e conversas telefónicas semanais com a mãe.
Porém, a rotina que tanto preza fica virada do avesso quando conhece Raymond – o técnico de informática do escritório onde trabalha, um homem trapalhão e com uma grande falta de maneiras – e ambos socorrem Sammy, um senhor de idade que perdeu os sentidos no meio da rua.
A amizade entre os três acaba por trazer mais pessoas à vida de Eleanor e alargar os seus horizontes. E, com a ajuda de Raymond, ela começa a enfrentar a verdade que manteve escondida de si própria, sobre a sua vida e o seu passado, num processo penoso mas que lhe permitirá por fim abrir o coração.