
Como vocês sabem se têm vindo às aulas, e se não têm eu digo-vos na mesma, adoro romances históricos. Mas este não é um romance histórico qualquer.
Às vezes há livros que tenho pena de nunca mais ir ler pela primeira vez, a não ser que me façam um transplante de memória. Tenho pena dessa emoção que é a pessoa passar um dia a trabalhar (ou na escola ou noutro sítio qualquer) e de vez em quando pensar ‘Vou chegar a casa e vou ler mais um bocado’. É um pouco como estar apaixonado. É um pouco, não. É mesmo.
Com ‘Os Pilares da Terra’ aconteceu-me isto. O que é um bocado estranho, porque agora se me perguntarem a história, sei que é sobre catedrais e lembro-me de haver um mau muito mau e um bom absolutamente memorável, o Prior Philip – aliás, é um dos poucos livros em que há uma personagem ao mesmo tempo muito bondosa e muito interessante – mas pouco mais. Aquilo que mais recordo foramos dias e noites de absoluta felicidade agarrada às páginas (eram dois volumes), levada pela arte absoluta de um homem que consegue tornar a Idade Média num sítio onde qualquer pessoa adoraria ir (de passagem, pelo menos).
Isto para vos dizer que nunca é demais falar neste livro, agora reunido em dois volumes numa edição que inclui, além dos dois volumes, um prefácio especial para os leitores portugueses.
O volume único dá jeito para quem perdeu um dos livros, para quem perdeu os dois, para quem os ofereceu depois de ter lido e quer relê-los (às vezes acontece-me), para quem quer oferecer à mãe de presente no Natal, e para os felizardos que nunca o leram.
Então: tema: já vos disse que era sobre construtores de catedrais. Se vos parece pouco apelativo, não são os únicos. “Quando me sento com uma nova ideia para escrever um livro, começo sempre com uma pergunta simples: consigo escrever uma história sobre isto? Ao explicar a minha ideia para ‘Os Pilares da Terra’, muitos me disseram que a resposta a essa pergunta era não. Quem quereria ler um livro sobre a construção de uma catedral na Idade Média?”
Resposta: muita gente. O livro foi escrito há mais de 30 anos e publicado em Portugal há 15, e fez tanto sucesso cá como em todos os países por onde passou. Já passaram trinta anos, duas sequelas, uma prequela, uma série de televisão, musicais e até um videojogo. Já houve mães que chamaram Aliena às filhas por causa da heroína. E a magia continua intacta.
O seu autor explica o fascínio pelo livro… precisamente com o tema: como é que os construtores de catedrais, que eram homens pobres e ignorantes, conseguiram construir tantos edifícios belos? “Os seres humanos têm a capacidade de ultrapassar as circunstâncias comuns e alcançar o eterno.”
Para mim, a resposta não é assim tão mística. É bonito, mas para dizer a verdade acho que o sucesso do livro tem mais a ver com a arte deste ‘construtor de catedrais’ que também é Ken Follett quando consegue prender-nos dia após dia, noite após noite, durante (deixem-me contar) quase mil páginas (e e em letra pequena).
Portanto, se há quem ainda não tenha essa felicidade, eu invejo. Aqui ficam agora reunidas num só volume as aventuras do Prior Philip, da cidade inventada de Kingsbridge e dos seus habitantes, ricos, pobres, construtores, padres, princesas. Força. Se começarem agora, ainda conseguem acabá-lo antes do Natal.
‘Os pilares da Terra – edição especial e limitada’, Ken Follett – Ed. Presença, E34,90