iStock-468906855.jpg

pixdeluxe

Quando pensamos em primavera, o que nos vem à cabeça? As cores e o aroma dos campos em flor, o som dos pássaros a chilrear, o calor dos raios do sol no rosto e uma vontade imensa de fazer algo diferente na nossa vida, que celebre este tempo de mudança em que a Natureza se reinventa e renasce depois do cinzento inverno. Com as nossas testemunhas aconteceu algo semelhante. Depois de anos em que o inverno pareceu ensombrar as suas vidas, conseguiram encontrar dentro de si a força e a energia que despertaram o sol primaveril. É tempo de renascer.

Maria João Espadinha
38 anos, jornalista


Quem a conhece sabe bem como Maria João é pragmática e que para ela não há obstáculos intransponíveis. Numa altura difícil da vida tomou uma decisão nada fácil, mas que lhe trouxe muitas alegrias. Hoje sente-se uma nova mulher, com uma imensidão de possibilidades ao seu alcance. Mas voltemos a 2014, ano em que tudo aconteceu. A sua relação de 4 anos tinha terminado, e em plena crise económica o trabalho como jornalista freelancer era incerto e impedia-a de saber que dinheiro iria receber no final do mês. Esta instabilidade financeira, a juntar-se à tristeza do fim do casamento, levou-a a decidir que só tinha duas opções: “Ou voltava para casa da minha mãe ou tentava algo que nunca tinha feito.” O seu espírito aguerrido optou pela segunda hipótese. Ligou para uma das suas melhores amigas, que vivia em Londres, e perguntou se poderia ficar com ela até organizar a sua vida pela capital britânica. “A Fábia disse logo que sim, sem reservas nem questões. Sou uma pessoa impulsiva, e quando decido algo não tenho tempo a perder, por isso comprei um bilhete só de ida para Londres daí a três semanas. Organizei as minhas coisas, falei com a família e os amigos mais próximos, ouvi recomendações e críticas… Mas não havia volta a dar. Estava determinada a fazer do meu futuro algo melhor. Pus em duas malas tudo o que coube (não foi muito!) e parti à aventura. Mandei currículos ainda de Lisboa e quando cheguei comecei logo a marcar entrevistas. E o que parecia impossível aconteceu: em três semanas arranjei trabalho na minha área.”

Lidar com as saudades
A 1 de setembro começou no seu novo trabalho. “O salário não era fantástico para os níveis de Londres, mas permitia-me começar a trilhar a minha carreira. Encontrar um quarto minimamente aceitável e a um preço que não fosse uma fortuna é que não foi tão fácil. O primeiro ano foi um pouco difícil – tive saudades de pessoas, de cheiros, de comida… Ainda me lembro de uma altura em que ouvia fado (Mariza) e chorava. Os primeiros voos de volta a Lisboa acabam sempre com uma lágrima no canto do olho por voltar a casa. Como a minha amiga Fábia diz, Londres pode engolir-te. É superimportante ter amigos com quem sair, passear, ou apenas falar enquanto se bebe uma pint num pub. Eu tive a sorte de ter uma rede de apoio fantástica. Com o passar dos meses, acabei por fazer mais amigos e fiquei bastante próxima da Leonor, uma rapariga portuguesa que namorava com um dos meus companheiros de casa – uma experiência nem sempre tão fantástica, com 5 pessoas a dividir uma casa com um quarto de banho só… Hoje vivemos só as duas, com os dois periquitos dela e a minha gata Miley.”
Um sonho concretizado
Um ano passou e em 2015 mudou para um emprego mais desafiante. É nessa altura que conhece a sua nova chefe: Venilia, uma portuguesa que vive em Londres há 20 anos e que foi para Maria João uma lufada de ar fresco, “foi das melhores líderes que tive em toda a minha vida profissional, ensinou-me imenso”. Mas a cereja no topo do bolo ainda estava para vir. Se alguém lhe perguntasse qual seria o seu emprego de sonho, a resposta não se faria esperar: trabalhar no ‘Financial Times’. “Óbvio, fui jornalista de economia a minha vida inteira! Mas sempre pensei que era impossível!” Em 2016, a publicação onde trabalhava foi vendida a outra empresa e Maria não gostou da mudança, por isso decidiu que estava na altura de voar outra vez. “Soube então que havia uma vaga para uma publicação do grupo do FT e concorri, sem grandes esperanças. Fui chamada para uma entrevista, que correu pessimamente (pensava eu) e não pensei mais nesse assunto.” Mas, surpresa das surpresas, recebeu um telefonema a oferecer-lhe emprego no FT. “Estou a adorar o que faço. Vejo o meu trabalho reconhecido regularmente e já ganhei dois prestigiados prémios da indústria financeira. Se quero voltar para Portugal? Esta experiência ensinou-me alguma coisa, que não sei o dia de amanhã. Costumo responder que sim, mas quando me reformar! Por agora é aqui o meu lugar.”

Helena T.
56 anos, professora


“Há males que vêm por bem”, é o que Helena diz quando lhe peço para contar a sua história de vida. Tinha 52 anos quando recebeu a notícia que nenhuma mulher quer alguma vez ouvir: a sua médica a dizer-lhe que tinha cancro de mama. Foi um marco negativo na sua vida, mas que, apesar de todo o sofrimento e muita ansiedade que causou, lhe deu força suficiente para dar uma volta de 180º à sua vida e reclamar a felicidade há muito perdida. “Estava a regressar da escola e ia para casa quando recebo uma chamada da minha ginecologista. Como estava a conduzir, não atendi mas foi o suficiente para me pôr a pensar. Tinha feito uma mamografia uns dias antes e pensei logo que poderia ter a ver com isso. Quando cheguei a casa, como o meu marido estava na sala a ver televisão, fui para o quarto ligar para a clínica. Puseram-me logo em contacto com a minha médica, que me disse para ir ter com ela assim que pudesse para fazer mais exames, porque a mamografia mostrava um nódulo, mas que não me preocupasse porque podia não ser nada. Fiquei com o coração aos pulos, mas lá me recompus e fui fazer o jantar. Estava à mesa com o meu marido quando decido contar-lhe. Vamos lá ver, é verdade que a minha relação com ele há muito que estava moribunda, mas estava à espera que mostrasse preocupação. As únicas palavras que proferiu foi ‘Ai é? Precisas que vá contigo?’. Estávamos casados há 15 anos mas a relação foi morrendo e acomodámo-nos, na altura pareceu-me melhor que a solidão.”

À procura da força interior
Fez os diferentes exames e o diagnóstico foi confirmado: carcinoma ductal invasivo. “O dia que soube que tinha cancro estava com ele na consulta. Tinha-lhe pedido para ir comigo e a médica ficou contente com a sua presença. Disse-lhe que seria um pilar importante na minha recuperação, porque haveria dias em que eu iria precisar da força dele. Lembro-me de procurar a mão dele para me confortar, mas não houve palavra ou gesto de afeto. No caminho para casa, só pensava como iria dizer ao meu pai e como era um alívio não ter filhos, para não lhes ter de dar aquela notícia.” Mas o silêncio e a indiferença do marido incomodavam-na cada vez mais. “Ele sempre foi um homem de poucas palavras, mas agora isso mexia comigo. Eu precisava de estar tranquila, focar-me na recuperação e ali estava ele e a sua indiferença. Fui criando alguma intolerância, tudo me irritava e acho que foi durante o tempo que estive sob anestesia, na cirurgia de remoção do tumor, que devo ter tomado essa decisão porque acordei a pensar ‘chega!’. Esperei uns dias para recuperar forças mas depois disse-lhe, com toda a calma que consegui, que era melhor que fôssemos cada um à sua vida. Ele não reagiu da melhor maneira, mas ao fim de dois meses saiu da casa onde vivíamos (que é dos meus pais). Segui com a minha vida e com os tratamentos e, apesar de todo o sofrimento que causaram, estou orgulhosa porque consegui ter a força necessária para dar a volta à minha vida. Reatei laços de amizade, fiz amigos novos, recebi o carinho dos meus alunos e dos meus colegas. E sobretudo vi que a força do amor entre pai e filha é realmente indestrutível. Tinha muito medo que, com a idade dele, a notícia da minha doença o deitasse abaixo, mas revelou-se uma pessoa incrível, foi ele que mais um vez cuidou de mim, foi a minha companhia nas horas boas e menos boas, fazia-me o almoço e o jantar, teve paciência e calma quando a mim me faltavam. Já lá vão quase 5 anos e desde então já viajámos juntos, rimos juntos… Hoje sou uma nova mulher, mais feliz e com mais garra e acho que até melhor professora. Nas poucas vezes que olho para trás, o que me entristece é o tempo que perdi num relacionamento sem amor, mas não perco tempo a lamentar-me, sinto que sou uma mulher de sorte.”

Catarina Santos
25 anos, ajudante de cozinha


Durante anos teve o sonho de ser modelo, de pertencer ao mundo da moda. Lutou, passou fome, ouviu muitos não, alguns sim, críticas, umas vezes boas, outras más, chorou, ficou doente… e nesse momento decidiu que o seu sonho lhe estava a tornar a vida num inferno e que o melhor seria deixá-lo para trás. Foi o melhor que fez, disse-nos, “era tão obcecada em ser modelo que isso levou a que não vivesse outras experiências. Andamos uma vida inteira a ouvir que devemos lutar pelos nossos sonhos, e isso é bom, mas quando eles se tornam uma obsessão e não tens qualquer prazer no processo para o concretizar, se calhar o melhor mesmo é partir para outra. Foi isso que eu fiz, e ainda bem.”

Sonho e realidade
Os primeiros anos de vida de Catarina foram ao cuidado da avó materna. Os pais estavam a trabalhar em França e só quando já tinha cinco anos é que conseguiram alguma estabilidade para a terem com eles. Trabalhavam muito, e às vezes, à noite, era a filha adolescente dos vizinhos que tomava conta dela. Ela adorava estes momentos, em que brincavam aos modelos. Não sabe se foi isso que a fez sonhar com o mundo da moda, mas a verdade é que cresceu a pensar que um dia ia desfilar numa passerelle a sério. “Aos 16 anos inscrevi-me numa agência. Falei com os meus pais, que não acharam graça nenhuma mas aceitaram a minha decisão, desde que não prejudicasse a escola. Logo nos primeiros tempos, as pessoas da agência disseram-me que tinha demasiada anca. Alguns trabalhos iam surgindo mas nada de grande monta, e estavam sempre a dizer ‘menos 5kg’, mesmo que já tivesse perdido 5kg, e eu era magra. Nos castings, por vezes diziam que tinha demasiadas curvas, que não era o que pretendiam, e na minha cabeça eu já ouvia ‘perder peso, perder peso’. Muita fome passei, logo eu que adoro comer.”

Finalmente em paz
Um dia quase perdeu os sentidos. “Os meus pais começaram a desconfiar que algo estava mal. Até aos 19 andei obcecada com o objetivo dos grandes desfiles, mas apenas conseguia trabalhos pequenos. Aos poucos fui perdendo o entusiasmo, comecei a comer o que me apetecia e, claro, os quilos vinham por arrasto. Voltei a fazer dieta, mas nesta altura já nada me dava prazer, chorava muito, nada me interessava e comecei a não querer sair de casa. Acho que atingi o meu ponto de saturação.” Os pais de Catarina, preocupados, convencem-na a procurar ajuda num psicólogo. “Durante mais de dois anos fiz terapia e não foi fácil fazer-me ver que o meu sonho estava a deixar-me doente. Quis tirar um tempo para repensar a vida e decidi voltar para Portugal e viver com a minha avó. Foi a coisa melhor que fiz. Que saudades eu tinha dos seus cozinhados, foi uma espécie de ano sabático dedicado aos prazeres gastronómicos. Redescobri o prazer da vida, uma outra paixão. A cozinha foi ao mesmo tempo uma fuga e uma terapia. Trabalho num restaurante e talvez um dia tenha um só meu. A moda foi um sonho de criança que teve o seu tempo, fiz as pazes com ele e enterrei-o.”

Palavras-chave

Mais no portal

Mais Notícias

Sony Bravia traz o cinema para casa com novos televisores e barras de som

Sony Bravia traz o cinema para casa com novos televisores e barras de som

Rir é com ela!

Rir é com ela!

Caras conhecidas atentas a tendências de moda

Caras conhecidas atentas a tendências de moda

O reencontro de estilo de Letizia e Máxima, em Amesterdão

O reencontro de estilo de Letizia e Máxima, em Amesterdão

Há séculos que não se assistia a nada assim: biliões de cigarras vão emergir nos Estados Unidos este ano

Há séculos que não se assistia a nada assim: biliões de cigarras vão emergir nos Estados Unidos este ano

Portugal tem

Portugal tem "tudo preparado se for preciso evacuação"

25 de Abril, 50 anos

25 de Abril, 50 anos

Na Culturgest, Tiago Rodrigues conta-nos histórias de quem presta ajuda humanitária na guerra

Na Culturgest, Tiago Rodrigues conta-nos histórias de quem presta ajuda humanitária na guerra

Caras conhecidas atentas a tendências de moda

Caras conhecidas atentas a tendências de moda

Um novo estúdio em Lisboa para jantares, showcookings, apresentações de marcas, todo decorado em português

Um novo estúdio em Lisboa para jantares, showcookings, apresentações de marcas, todo decorado em português

Sony A6700 em teste: Vídeo cinemático

Sony A6700 em teste: Vídeo cinemático

As melhores imagens da equipa PRIO - Exame Informática - Peugeot no Eco Rally Portugal

As melhores imagens da equipa PRIO - Exame Informática - Peugeot no Eco Rally Portugal

25 de Abril contado em livros

25 de Abril contado em livros

Fed e BCE em direções opostas?

Fed e BCE em direções opostas?

EXCLUSIVO: “Big Brother” - Catarina Miranda deixou um namorado cá fora e tem uma relação tensa com a mãe

EXCLUSIVO: “Big Brother” - Catarina Miranda deixou um namorado cá fora e tem uma relação tensa com a mãe

Lugar reservado: seleção de 27 cadeiras e poltronas

Lugar reservado: seleção de 27 cadeiras e poltronas

Desconvocada greve dos enfermeiros dos setores privado e social

Desconvocada greve dos enfermeiros dos setores privado e social

VOLT Live: reparação, atualização e segunda vida das baterias

VOLT Live: reparação, atualização e segunda vida das baterias

50 anos do 25 de Abril: 14 livros com vista para a liberdade

50 anos do 25 de Abril: 14 livros com vista para a liberdade

Quando a cantiga foi uma arma

Quando a cantiga foi uma arma

MAI apela à limpeza dos terrenos rurais

MAI apela à limpeza dos terrenos rurais

DS E-Tense Performance: Serão assim os superdesportivos do futuro?

DS E-Tense Performance: Serão assim os superdesportivos do futuro?

Chief Innovation Officer? E por que não Chief Future Officer?

Chief Innovation Officer? E por que não Chief Future Officer?

Recorde alguns dos melhores 'looks' de Anya Taylor-Joy

Recorde alguns dos melhores 'looks' de Anya Taylor-Joy

Capitão Salgueiro Maia

Capitão Salgueiro Maia

Xiaomi 14: Desempenho de topo

Xiaomi 14: Desempenho de topo

Cristina Ferreira mostra-se cúmplice de João Monteiro no Rio de Janeiro

Cristina Ferreira mostra-se cúmplice de João Monteiro no Rio de Janeiro

No Porto, interiores com identidade clássica e conforto intemporal

No Porto, interiores com identidade clássica e conforto intemporal

Passatempo: ganha convites para 'A Grande Viagem 2: Entrega Especial'

Passatempo: ganha convites para 'A Grande Viagem 2: Entrega Especial'

Empregos rotineiros aumentam risco de demência. O que diz um novo estudo

Empregos rotineiros aumentam risco de demência. O que diz um novo estudo

Dânia Neto usou três vestidos no casamento: os segredos e as imagens

Dânia Neto usou três vestidos no casamento: os segredos e as imagens

O que os preços do petróleo dizem sobre o conflito no Médio Oriente?

O que os preços do petróleo dizem sobre o conflito no Médio Oriente?

A VISÃO Se7e desta semana - edição 1624

A VISÃO Se7e desta semana - edição 1624

A meio caminho entre o brioche e o folhado, assim são os protagonistas da Chez Croissant

A meio caminho entre o brioche e o folhado, assim são os protagonistas da Chez Croissant

Inspirados na Revolução: 30 sugestões para celebrar o 25 de Abril

Inspirados na Revolução: 30 sugestões para celebrar o 25 de Abril

Desfile de joias e elegância no jantar de gala oferecido pelos reis dos Países Baixos em honra dos reis de Espanha

Desfile de joias e elegância no jantar de gala oferecido pelos reis dos Países Baixos em honra dos reis de Espanha

Limpeza de faixas permite manter abastecimento de energia sem falhas

Limpeza de faixas permite manter abastecimento de energia sem falhas

Celebridades vestem-se a rigor para o desfile pré-outono 2024 da Dior, em Nova Iorque

Celebridades vestem-se a rigor para o desfile pré-outono 2024 da Dior, em Nova Iorque

Lisboa através dos tempos na VISÃO História

Lisboa através dos tempos na VISÃO História

Molas de cabelo: 15 versões do acessório-estrela da estação

Molas de cabelo: 15 versões do acessório-estrela da estação

As Revoluções Francesas na VISÃO História

As Revoluções Francesas na VISÃO História

Regantes de Campilhas querem reforçar abastecimento de água e modernizar bloco de rega

Regantes de Campilhas querem reforçar abastecimento de água e modernizar bloco de rega

40 empresas portuguesas marcam presença na 62ª edição do Salão do Móvel de Milão

40 empresas portuguesas marcam presença na 62ª edição do Salão do Móvel de Milão

A tua VISÃO Júnior de abril vale um bilhete para a Jumpyard!

A tua VISÃO Júnior de abril vale um bilhete para a Jumpyard!

Transplante pulmonar deu uma

Transplante pulmonar deu uma "segunda vida" a 400 doentes em Portugal

Parceria TIN/Público

A Trust in News e o Público estabeleceram uma parceria para partilha de conteúdos informativos nos respetivos sites