@anaraqueltadeu

Às vezes dou comigo a pensar que talvez haja uma ordem universal, quiçá divina, que faz algumas correções, quando a humanidade parece caminhar alegremente para o precipício. É verdade que os meios usados por essa mão sobrenatural, para invertermos o caminho indesejado, nem sempre são agradáveis. Pelo contrário, são por norma traumáticos, em forma de pragas, guerras ou pandemias. Esta pandemia de COVID-19, que ainda estamos a viver, apesar da chegada da vacina nos dar uma nova esperança para 2021, deve fazer-nos mudar o rumo da nossa forma de vida, mesmo depois de termos conseguido a almejada imunidade de grupo.

Até fevereiro de 2020, todo o mundo continuava a viver todas as formas de consumo, numa velocidade paranoide. Os aeroportos cheios de gente com pressa de ir para algum destino, só porque estava em promoção. Ninguém fica em casa, com a vergonha de ser descriminado. Há reuniões do outro lado do planeta, só porque sim. E, se o dinheiro é muito, podemos almoçar em Paris e jantar em Nova Iorque.

Várias nações reivindicam o estatuto de superpotências e desatam a conquistar o espaço, num frenesim. Começamos a cobiçar outros planetas, para onde nos possamos mudar, se a terra ficar demasiado quente ou irrespirável. Pelo menos para os eleitos, a sensação de poder invencível era dominante, até que um desprezível coronavírus nos pôs a todos de pantanas! É terrível toda a devastação que já sofremos com a pandemia de COVID-19. Tantas vidas perdidas, com mortes ainda mais dolorosas pela obrigatória solidão! Quantos negócios dizimados, e sonhos destruídos! Mas vai ficar-nos na memória a beleza de Nova Deli despoluída, o sossego do trânsito no Cairo e o clarear das águas dos canais de Veneza.

Não tenho qualquer dúvida de que Donald Trump teria vencido de novo as eleições americanas se a pandemia não lhe tivesse trocado as voltas. Com a economia em alta e dinheiro em todos os bolsos, os americanos iriam dar-lhe a vitória, porque “se sentiriam grandes outra vez”! É espantosa a força corruptora dos bens materiais. As comunidades de emigrantes legalizados, já com passaporte americano, eram parte da falange de apoio de Trump nas suas políticas segregacionistas. É curioso que não foi a desastrosa abordagem à pandemia, que conduziu Trump à derrota. Mesmo com um sistema de saúde incapaz de responder às necessidades da população, que não estivesse munida de um seguro chorudo, e com uma taxa de mortalidade brutal, a maioria continuava com ele. Só não resistiu á hecatombe económica gerada pela pandemia. A pandemia destruiu a economia e levou Joe Biden ao poder. Escreveu-se direito, por linhas tortas.

Se há assunto não resolvido no mundo, é o problema das migrações. É impossível obrigar o homem a continuar a viver na miséria, se lhe chegam imagens pela internet de cidades reluzentes, com gente farta e bonita, em constante celebração. É legítimo querer mudar de país e tentar uma vida melhor, em que as preocupações constantes não sejam o pão e a casa. Não podemos continuar a legitimar a fuga apenas quando há uma guerra ou um genocídio.

Boris Johnson esteve muito mal depois de ter sido infetado com o novo coronavírus e, por conseguinte, esteve quase a ter de ser ligado ao ventilador mecânico. Escapou por um triz e fez questão de lembrar dois enfermeiros emigrantes, a quem atribui o maior mérito de ter escapado. Há dias, fiquei comovido quando me enviaram uma fotografia de uma família turca de imigrantes, chegados à Alemanha em 1970. A humilde família tem quatro filhos e o rapazinho descalço, muito direito e de cabeça levantada, é Ugur Sahin, o cientista a quem a humanidade ficou agora a dever a vacina da Pfirzer/BioNtech contra a COVID-19.

Por princípio, acredito que a inteligência dos homens lhes permite ler as mensagens, mesmo encriptadas e irónicas. Espero que esta pandemia proporcione aos líderes mundiais alguns momentos de reflexão. Talvez possamos alterar um pouco o nosso modelo de desenvolvimento, sem o recurso ao consumismo desenfreado, que conduz ao aquecimento global. Mesmo sem grande carisma, Joe Biden poderá dar aos americanos um Sistema Nacional de Saúde universal, consentâneo com o estatuto de primeira potencia mundial. Vamos acolher bem os emigrantes que nos chegam, sem os colocar em guetos de exclusão, ao mesmo tempo que tratamos de dar uma vida melhor nos seus países de origem, para onde alguns vão querer voltar.

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